domingo, 12 de setembro de 2010

Incompleta canção de Madallene


Ainda ouço Madallene, todas as madrugadas, tocando sua canção preferida, naquele piano velho, onde faltavam duas notas, que se não me falha a assimilação eram o dó e o si. Aquela sempre fora minha canção de ninar favorita, dês de os sete anos de idade, quando Madallene ainda tinha cinco e tocava suas primeiras notas, quando o dó e o si ainda funcionavam, quando ela ainda era minha doce Madallene.
Ainda vejo Madallene, todos os dias da janela do quarto, sentada em baixo da cerejeira florida, ainda no vestido azul escuro, carregando o brasão da escola no peito. De partitura nas mãos Madallene era aos poucos coberta pelas flores rosa claro, que caiam da cerejeira fresca pelo vento. Madallene se materializa todos os dias em minhas lembranças.
Lembro-me do último aniversário de Madallene, dezessete anos, estava belíssima. Os cabelos a altura do queixo de um preto lustroso serviam de moldura ao belo rosto branco, corado pelos lábios finos avermelhados, nunca esteve tão bela, o vestido que ganhara naquele dia lhe caiu como luva, o veludo vermelho sangue, combinava perfeitamente com o corpo branco de Madallene. Quando todos foram dormir e Madallene já preparava o piano para minha canção de ninar, apanhei da árvore algumas cerejas e joguei-as na sacada do quarto de Madallene, e a garota desceu, em silêncio coloquei em seu pulso uma pulseira feita a mão durante toda a primavera, de onde pendiam duas notas musicas, dó e si. Ela apenas sorriu, e disse: ‘Agora não faltam mais’, foi quando não suportei e caí de joelhos pelos lábios de Madallene, depois de ter um beijo roubado Madallene correu no escuro para o quarto. Ainda vejo o vulto do vestido vermelho de Madallene a noite, como se passá-se pelo quarto.
Maldita cólera, que levou minha Madallene naquele outono, cólera que me visita todas as noites, junto a canção de Madallene, porém não me leva onde levou-a. Madallene toca minha canção todas as noites, corre de vestido vermelho no escuro do quarto, e durante o dia fica sentada sob a cerejeira de vestido azul com brasão. As vezes o vento desmaterializa Madallene bem em minha frente, e quando chove Madallene não se senta sob a cerejeira, talvez só por isso eu acredite que Madallene se foi.
Agora mais que nunca percebo que dó e si, não faziam falta na canção de Madallene como fazem agora, é como se as notas de minha canção, fossem Madallene e meu coração que se foi junto a ela no outono. Madallene um si de leveza e arranjo e meu coração um dó forte pelo amor de Madallene. Agora mais que nunca a canção de Madallene está incompleta pelo dó e o si.
Porém mesmo em falta de suas duas notas musicais, ainda ouço Madallene tocar pra mim.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dia acaba por se tornar Mulher


Mais ou menos às 7 horas, Dia acorda, faz a barba, e então se diz chamar Manhã, veste seu vestido amarelo brilhante e sai iluminando. Manhã é o tipo de mulher feliz demais pra prestar qualquer atenção no mundo, sua alegria o ilumina sem que ela sequer note, porém como qualquer mulher, Manhã as vezes acorda manhosa e não tira o pijama cinza claro, Manhã é o tipo de mulher que pode ameaçar chover, mais isso é mais raro, talvez apenas em dias de TPM.
Dia é Manhã até se cansar e passar mais algumas horas se preparando para ser Tarde, então Tarde coloca um vestido pesado, alaranjado quente e exala todo seu calor e sensualidade. Tarde é do tipo de mulher dramática, que ama um tango, e como toda mulher, Tarde faz drama e ameaça ir embora, e lá se vai a distinta Tarde.
Depois de ser Manhã, Tarde, só pra surpreender todos Dia acaba por se tornar Noite,ainda mais bela, dessa vez verdadeiramente feminina, em um longo vestido azul celeste, com brincos de brilhantes, onde cada pedra tem seu nome, Dalva, Lucida, Beta, Maia e quantas mais estrelas Noite quiser, para se enfeitar. Noite não é mais bela, nem mais importante que Manhã e Tarde, até fazem um trio de magnitudes, de diversas faces e temperamentos, porém Noite é o tipo de mulher que carrega segredos, que é iluminada pela lua, Noite inspira poetas romancistas, definiria Noite como misteriosa. Noite trás um encanto que à 00:00 lhe transforma em uma outra mulher.
Madrugada se veste de branco, perde seu amor e se recusa a dormir, Madrugada vaga horas procurando seu amor, enquanto todos dormem. Acaba sempre por encontrá-lo já no final de suas forças, e como o amor nos leva a outro mundo, Madrugada é levada pra onde só quem ama de verdade sabe. Quando Madrugada se vai o brilho do sol acorda Dia, que está atrasado pra ser mulher de novo.

Contos Atuais


Nossas Rapunzéis cortam as tranças,
Simplesmente pra mudar o visual.
Nossas Julietas morrem todos os dias,
Por um Romeu que jamais as pertencerá.
As cinderelas perdem seus sapatinhos,
De tão bêbadas.
Brancas de Neve preferem morder a maçã,
A ir embora a cavalo.
Nossas Bellas permanecem adormecidas,
E nessa história elas não acordam nunca,
Pois os beijos, já não são de amor verdadeiro.
Princepes encantados,
Hoje em dia, não tão encantados assim,
Amarrem seus cavalos brancos,
Comprem um porsche preto.
Elas não querem rosas e serenatas, nem mesmo poemas,
Querem jóias, vestidos e tudo mais que seu dinheiro possa lhes comprar,
Então é bom que você não seja um sapo, ou um Corcunda de Notre Dame.
Elas não são mais pequenas e tão indefesas quanto antes,
Elas fazem o trabalho dos vilões para serem vistas como mocinhas,
E os finais felizes, eles já não são tão felizes assim.