sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Então, Corra Tempo


Tudo bem, o tempo é representado pra maioria como um relógio, ampulhetas, cucos, ou qualquer outra coisa que o meça. Mas pra mim o tempo é um velho, cheio de cicatrizes, feitas por homens que o marcaram a fim de serem lembrados. E por mais que o velho tempo corra, os homens correm atrás dele pra deixar sua marca que quanto maior for, melhor.
Dessa forma não me admiro que me digas que o tempo não espera ninguém.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Desejos e Dentes de Leão


Fechei os olhos e fiz um pedido, todo o ar que eu segurava firme nos pulmões se foi, então eu tive medo de abrir os olhos. Tive medo de saber que dentes de leão não realizam desejos.
Ou talvez meu medo fosse que as pétalas felpudas não tivessem ido embora mesmo com toda a força do meu desejo, e do meu assopro. Seria terrível saber que todas as velinhas do aniversário passado foram apagadas em vão. E na verdade mesmo eu talvez não ficasse tão triste de saber que as velinhas não funcionam, talvez o pedido não fosse assim tão importante quanto o que depositei no dente de leão felpudo.
Alguém me disse um dia, feche os olhos e pense no que quer. Então de olhos fechados pensei. E você me puxou pra perto, estávamos dançando, e a lua havia cedido seu brilho as estrelas, e do alto tantas luzes, na cidade longe dali, estávamos no escuro, cercados de luzes, quantas delas, você me beijou e disse que meu cheiro era bom.
Abri os olhos e vi algumas pétalas sendo carregadas pelo vento, e como me disseram um dia, o vento carregou meu pedido, como na fumaça das velinhas. Eu tinha nas mãos um dente de leão sem nenhuma pétala, e carregava no rosto o meu melhor sorriso. Guardei o que restou do dente de leão, em um livro na estante do quarto, pra que não morresse, afinal se eu não o tivesse não teria como cobrar meu pedido um dia, desejos são meu negócio, no meu departamento meu trabalho é realizá-los, e avaliar todos os dias o quanto me valem os já realizados.
E dos meus desejos talvez você seja o melhor deles e de alguma forma, o mais real dos não realizados, e quem sabe mais real que os já realizados.

domingo, 10 de outubro de 2010

Guardei


Guardei você na madrugada de ontem.
Guardei em uma caixinha com lembranças mais vivas que o presente.
Junto caíram duas lágrimas, dadas de má vontade, sempre detestei chorar.
É uma espécie de portal, que leva a um teatro de marionetes onde você é minha preferida, sabe, só então eu posso repassar as partes da história, repassá-las do meio jeito e pular quantas eu quiser, só assim eu tenho o controle, e você e a nossa história vão morar lá por enquanto.

Deduções Incertas


A vida inteira pensei que na cozinha talvez fosse eu quem fizesse as cebolas chorarem; também nunca tive para quem cozinhar, a não ser eu mesma e claro, talvez isso mude tudo. Que eu me lembre nunca fui boa em números, frações e raízes; nunca tive muito isso de raízes, sentimentos, talvez por uma pequena fração de segundos, nunca nada permanente, eu falo de uma segunda metade. Nunca fui muito objetiva, isso de olhar para um ponto fixo, definitivamente eu nunca tive; sempre procurando em que me agarrar, o vento sempre me distraiu quando brincava com meu vestido ou meu cabelo, as cores e os perfumes nunca me deixaram ser uma pessoa centrada o bastante. Sabe isso de se remoer de paixão? Nunca aconteceu de verdade; pode ser porque sempre foi o que eu mais quis, ah morrer de paixão por um alguém, da pra sentir o gosto só de falar, me contento em morrer de paixão pela vida, poderia ser pior de não houvesse paixão alguma. Amar, sempre me achei capaz o bastante pra amar; talvez por isso você algum dia me encontre rindo sozinha, acredito, sempre acreditei. Quando pequena, nunca entendi porque se dorme a noite e se permanece acordado ao dia, dormir durante o dia sempre me parecia mais seguro; por desconhecidos porquês eu entendi sozinha que permanecer acordado a noite é pra fugitivos e viajantes, tento dormir menos hoje, quero perder o menor tempo possível e a noite hoje me parece tão mais segura que o dia. O futuro, os futuristas, eu diria os incertos, nunca me fez diferença estar assim tão a frente; permaneço bem observando o vermelho das árvores de outono, mesmo sabendo que vão secar por completo, não quero um outono eterno, gosto de saudades, e como gosto. Confiança, de certa forma e em certas coisas sim; porém, sempre escolhi o que me fez sorrir, para mim e ao mesmo tempo pra fora, e só o que se relacionasse a isso. Olhar de fora pra dentro; concordo, porém nunca me permiti ficar somente por baixo, nossos méritos são nosso crédito pessoal. Fé; tenho, acredito, e é o que me move e não me permite limitar a religião ou deuses, começo por acreditar em mim e nos meus sonhos, isso me mantém de pé. De que importa a distância entre os planetas, ou entre as estrelas? O universo não é infinito? Sempre movida pelo incerto, tocada pelo menos explicável possível, e não me importa a distância das estrelas ou se elas já estão mortas. Quero saber porque elas brilham depois de mortas com uma cor mais quente que quando estavam vivas, e não quero a explicação óbvia, científica, quero saber que espécie de amor as move pra que brilhem depois de mortas. Quero também brilhar depois de morta, não quero deixar números, cálculos certos. Quero um big bang de sentimentos, sentidos, quero deixar estilhaços de luz, novas estrelas. Não, me faz diferença saber de mais nada se souber o que eu sinto, afinal quando se descobre tudo, o que teremos pela frente? Teremos a certeza, e o incerto é o que me move.