A vida inteira pensei que na cozinha talvez fosse eu quem fizesse as cebolas chorarem; também nunca tive para quem cozinhar, a não ser eu mesma e claro, talvez isso mude tudo. Que eu me lembre nunca fui boa em números, frações e raízes; nunca tive muito isso de raízes, sentimentos, talvez por uma pequena fração de segundos, nunca nada permanente, eu falo de uma segunda metade. Nunca fui muito objetiva, isso de olhar para um ponto fixo, definitivamente eu nunca tive; sempre procurando em que me agarrar, o vento sempre me distraiu quando brincava com meu vestido ou meu cabelo, as cores e os perfumes nunca me deixaram ser uma pessoa centrada o bastante. Sabe isso de se remoer de paixão? Nunca aconteceu de verdade; pode ser porque sempre foi o que eu mais quis, ah morrer de paixão por um alguém, da pra sentir o gosto só de falar, me contento em morrer de paixão pela vida, poderia ser pior de não houvesse paixão alguma. Amar, sempre me achei capaz o bastante pra amar; talvez por isso você algum dia me encontre rindo sozinha, acredito, sempre acreditei. Quando pequena, nunca entendi porque se dorme a noite e se permanece acordado ao dia, dormir durante o dia sempre me parecia mais seguro; por desconhecidos porquês eu entendi sozinha que permanecer acordado a noite é pra fugitivos e viajantes, tento dormir menos hoje, quero perder o menor tempo possível e a noite hoje me parece tão mais segura que o dia. O futuro, os futuristas, eu diria os incertos, nunca me fez diferença estar assim tão a frente; permaneço bem observando o vermelho das árvores de outono, mesmo sabendo que vão secar por completo, não quero um outono eterno, gosto de saudades, e como gosto. Confiança, de certa forma e em certas coisas sim; porém, sempre escolhi o que me fez sorrir, para mim e ao mesmo tempo pra fora, e só o que se relacionasse a isso. Olhar de fora pra dentro; concordo, porém nunca me permiti ficar somente por baixo, nossos méritos são nosso crédito pessoal. Fé; tenho, acredito, e é o que me move e não me permite limitar a religião ou deuses, começo por acreditar em mim e nos meus sonhos, isso me mantém de pé. De que importa a distância entre os planetas, ou entre as estrelas? O universo não é infinito? Sempre movida pelo incerto, tocada pelo menos explicável possível, e não me importa a distância das estrelas ou se elas já estão mortas. Quero saber porque elas brilham depois de mortas com uma cor mais quente que quando estavam vivas, e não quero a explicação óbvia, científica, quero saber que espécie de amor as move pra que brilhem depois de mortas. Quero também brilhar depois de morta, não quero deixar números, cálculos certos. Quero um big bang de sentimentos, sentidos, quero deixar estilhaços de luz, novas estrelas. Não, me faz diferença saber de mais nada se souber o que eu sinto, afinal quando se descobre tudo, o que teremos pela frente? Teremos a certeza, e o incerto é o que me move.