quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Um Soldado a Menos


Só por essa noite eu sou um soldado a menos, um soldadinho de chumbo entregue a sua bailarina dos sonhos. Amanhã de manhã quando acordar será tudo novo, um soldadinho pronto pra guerra pronto pra encarar seus inimigos e medos.
Mais essa noite não, não essa noite. Essa noite sou só um soldadinho a menos!
Estou cansada demais, com colo de menos, me agarrando aos macios algodões de cobertor.
Está frio lá fora, só tem chovido e os beijos são quentes, mais quentes nessa época e eu preciso deles.
O trem parou e descem mais passageiros, mais passageiros trocam de vagão e levam sua pesada bagagem. Estou sentada no banco da janela e lá fora tem um mundo de maravilhas, e eu quero ir a pé sem bagagem nenhuma que me pese. Eu quero ser leve!
Leve o bastante pra entrar dentro de você e pra que principalmente você consiga entrar em mim, e colocar o soldadinho pra dormir, e deixar ele sonhar que venceu a guerra e ganhou a bailarina, e que ele possa viver no sonho; ele pode dês de que você não me deixe sozinha, dês de que não deixe de me embalar, que aqueça o frio dos meus lábios em seus beijos.
Assim o soldadinho vai deixar as armas, só pra ver sua bailarina dançar.

sábado, 6 de novembro de 2010

Me Derrote


Eu ainda posso amar.
Como quando tinha meus quatorze...
Aquele jardim não parecia seguro nem longe o bastante da festa, ainda podíamos ouvir a música e as pessoas sorrindo, aliás, lugar nenhum parecia seguro, podíamos ser pegos a qualquer momento, por qualquer pessoa; mal sabíamos que já aviamos sido pegos pelo amor.
O coração estava desesperado, como se estivesse prestes a ser alcançado por ago desconhecido que vinha o perseguindo a tempo, e ele estava apavorado. O corpo todo tremia, e o não significava sim, e foi dito várias vezes, e interpretado como tal. O coração foi laçado como um cavalo selvagem de pelo macio que se rendeu caindo ao chão. Abrindo os olhos vi outros dois grandes olhos mel se abrindo e se apertando em um sorriso cúmplice, sorri e corri como uma fugitiva pelo jardim.
Agora parecia que todos olhavam e sabiam, e eu sabia. De repente o coração havia aceitado o laço, e deixado que algo afagasse seu pêlo. E eu não era mais a mesma, havia aprendido algo surpreendente demais.
Por mais algumas vezes eu me senti sendo rendida, e como eu amei essa derrota, nada como perder pro amor.
Talvez por algum tempo eu tenha ganhado, mesmo querendo perder, e fico pensando se ele se cansou de lutar, logo penso que não, não pra tal guerreiro, que quando vence derrota, rende.
Mais eu sim me cansei de lutar, eu quero perder, ser derrotada sem chances de voltar a lutar, quero ser rendida pra sempre. Eu ainda posso amar, eu sei que posso, pois já me sinto fraca e forte o bastante pra perder.
Por favor! Vamos jogar de novo, melhor que isso, vamos lutar. Lute comigo mesmo sabendo que vai ganhar e que eu quero mesmo perder. Me derrote, eu ainda posso ser derrotada. Não deixe meu cavalo correr solto, as noites estão frias demais, e ele precisa de um estábulo e alguém que o monte e o faça se sentir livre, mesmo estando domado. Eu sei, eu ainda posso!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Então, Corra Tempo


Tudo bem, o tempo é representado pra maioria como um relógio, ampulhetas, cucos, ou qualquer outra coisa que o meça. Mas pra mim o tempo é um velho, cheio de cicatrizes, feitas por homens que o marcaram a fim de serem lembrados. E por mais que o velho tempo corra, os homens correm atrás dele pra deixar sua marca que quanto maior for, melhor.
Dessa forma não me admiro que me digas que o tempo não espera ninguém.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Desejos e Dentes de Leão


Fechei os olhos e fiz um pedido, todo o ar que eu segurava firme nos pulmões se foi, então eu tive medo de abrir os olhos. Tive medo de saber que dentes de leão não realizam desejos.
Ou talvez meu medo fosse que as pétalas felpudas não tivessem ido embora mesmo com toda a força do meu desejo, e do meu assopro. Seria terrível saber que todas as velinhas do aniversário passado foram apagadas em vão. E na verdade mesmo eu talvez não ficasse tão triste de saber que as velinhas não funcionam, talvez o pedido não fosse assim tão importante quanto o que depositei no dente de leão felpudo.
Alguém me disse um dia, feche os olhos e pense no que quer. Então de olhos fechados pensei. E você me puxou pra perto, estávamos dançando, e a lua havia cedido seu brilho as estrelas, e do alto tantas luzes, na cidade longe dali, estávamos no escuro, cercados de luzes, quantas delas, você me beijou e disse que meu cheiro era bom.
Abri os olhos e vi algumas pétalas sendo carregadas pelo vento, e como me disseram um dia, o vento carregou meu pedido, como na fumaça das velinhas. Eu tinha nas mãos um dente de leão sem nenhuma pétala, e carregava no rosto o meu melhor sorriso. Guardei o que restou do dente de leão, em um livro na estante do quarto, pra que não morresse, afinal se eu não o tivesse não teria como cobrar meu pedido um dia, desejos são meu negócio, no meu departamento meu trabalho é realizá-los, e avaliar todos os dias o quanto me valem os já realizados.
E dos meus desejos talvez você seja o melhor deles e de alguma forma, o mais real dos não realizados, e quem sabe mais real que os já realizados.

domingo, 10 de outubro de 2010

Guardei


Guardei você na madrugada de ontem.
Guardei em uma caixinha com lembranças mais vivas que o presente.
Junto caíram duas lágrimas, dadas de má vontade, sempre detestei chorar.
É uma espécie de portal, que leva a um teatro de marionetes onde você é minha preferida, sabe, só então eu posso repassar as partes da história, repassá-las do meio jeito e pular quantas eu quiser, só assim eu tenho o controle, e você e a nossa história vão morar lá por enquanto.

Deduções Incertas


A vida inteira pensei que na cozinha talvez fosse eu quem fizesse as cebolas chorarem; também nunca tive para quem cozinhar, a não ser eu mesma e claro, talvez isso mude tudo. Que eu me lembre nunca fui boa em números, frações e raízes; nunca tive muito isso de raízes, sentimentos, talvez por uma pequena fração de segundos, nunca nada permanente, eu falo de uma segunda metade. Nunca fui muito objetiva, isso de olhar para um ponto fixo, definitivamente eu nunca tive; sempre procurando em que me agarrar, o vento sempre me distraiu quando brincava com meu vestido ou meu cabelo, as cores e os perfumes nunca me deixaram ser uma pessoa centrada o bastante. Sabe isso de se remoer de paixão? Nunca aconteceu de verdade; pode ser porque sempre foi o que eu mais quis, ah morrer de paixão por um alguém, da pra sentir o gosto só de falar, me contento em morrer de paixão pela vida, poderia ser pior de não houvesse paixão alguma. Amar, sempre me achei capaz o bastante pra amar; talvez por isso você algum dia me encontre rindo sozinha, acredito, sempre acreditei. Quando pequena, nunca entendi porque se dorme a noite e se permanece acordado ao dia, dormir durante o dia sempre me parecia mais seguro; por desconhecidos porquês eu entendi sozinha que permanecer acordado a noite é pra fugitivos e viajantes, tento dormir menos hoje, quero perder o menor tempo possível e a noite hoje me parece tão mais segura que o dia. O futuro, os futuristas, eu diria os incertos, nunca me fez diferença estar assim tão a frente; permaneço bem observando o vermelho das árvores de outono, mesmo sabendo que vão secar por completo, não quero um outono eterno, gosto de saudades, e como gosto. Confiança, de certa forma e em certas coisas sim; porém, sempre escolhi o que me fez sorrir, para mim e ao mesmo tempo pra fora, e só o que se relacionasse a isso. Olhar de fora pra dentro; concordo, porém nunca me permiti ficar somente por baixo, nossos méritos são nosso crédito pessoal. Fé; tenho, acredito, e é o que me move e não me permite limitar a religião ou deuses, começo por acreditar em mim e nos meus sonhos, isso me mantém de pé. De que importa a distância entre os planetas, ou entre as estrelas? O universo não é infinito? Sempre movida pelo incerto, tocada pelo menos explicável possível, e não me importa a distância das estrelas ou se elas já estão mortas. Quero saber porque elas brilham depois de mortas com uma cor mais quente que quando estavam vivas, e não quero a explicação óbvia, científica, quero saber que espécie de amor as move pra que brilhem depois de mortas. Quero também brilhar depois de morta, não quero deixar números, cálculos certos. Quero um big bang de sentimentos, sentidos, quero deixar estilhaços de luz, novas estrelas. Não, me faz diferença saber de mais nada se souber o que eu sinto, afinal quando se descobre tudo, o que teremos pela frente? Teremos a certeza, e o incerto é o que me move.

domingo, 12 de setembro de 2010

Incompleta canção de Madallene


Ainda ouço Madallene, todas as madrugadas, tocando sua canção preferida, naquele piano velho, onde faltavam duas notas, que se não me falha a assimilação eram o dó e o si. Aquela sempre fora minha canção de ninar favorita, dês de os sete anos de idade, quando Madallene ainda tinha cinco e tocava suas primeiras notas, quando o dó e o si ainda funcionavam, quando ela ainda era minha doce Madallene.
Ainda vejo Madallene, todos os dias da janela do quarto, sentada em baixo da cerejeira florida, ainda no vestido azul escuro, carregando o brasão da escola no peito. De partitura nas mãos Madallene era aos poucos coberta pelas flores rosa claro, que caiam da cerejeira fresca pelo vento. Madallene se materializa todos os dias em minhas lembranças.
Lembro-me do último aniversário de Madallene, dezessete anos, estava belíssima. Os cabelos a altura do queixo de um preto lustroso serviam de moldura ao belo rosto branco, corado pelos lábios finos avermelhados, nunca esteve tão bela, o vestido que ganhara naquele dia lhe caiu como luva, o veludo vermelho sangue, combinava perfeitamente com o corpo branco de Madallene. Quando todos foram dormir e Madallene já preparava o piano para minha canção de ninar, apanhei da árvore algumas cerejas e joguei-as na sacada do quarto de Madallene, e a garota desceu, em silêncio coloquei em seu pulso uma pulseira feita a mão durante toda a primavera, de onde pendiam duas notas musicas, dó e si. Ela apenas sorriu, e disse: ‘Agora não faltam mais’, foi quando não suportei e caí de joelhos pelos lábios de Madallene, depois de ter um beijo roubado Madallene correu no escuro para o quarto. Ainda vejo o vulto do vestido vermelho de Madallene a noite, como se passá-se pelo quarto.
Maldita cólera, que levou minha Madallene naquele outono, cólera que me visita todas as noites, junto a canção de Madallene, porém não me leva onde levou-a. Madallene toca minha canção todas as noites, corre de vestido vermelho no escuro do quarto, e durante o dia fica sentada sob a cerejeira de vestido azul com brasão. As vezes o vento desmaterializa Madallene bem em minha frente, e quando chove Madallene não se senta sob a cerejeira, talvez só por isso eu acredite que Madallene se foi.
Agora mais que nunca percebo que dó e si, não faziam falta na canção de Madallene como fazem agora, é como se as notas de minha canção, fossem Madallene e meu coração que se foi junto a ela no outono. Madallene um si de leveza e arranjo e meu coração um dó forte pelo amor de Madallene. Agora mais que nunca a canção de Madallene está incompleta pelo dó e o si.
Porém mesmo em falta de suas duas notas musicais, ainda ouço Madallene tocar pra mim.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dia acaba por se tornar Mulher


Mais ou menos às 7 horas, Dia acorda, faz a barba, e então se diz chamar Manhã, veste seu vestido amarelo brilhante e sai iluminando. Manhã é o tipo de mulher feliz demais pra prestar qualquer atenção no mundo, sua alegria o ilumina sem que ela sequer note, porém como qualquer mulher, Manhã as vezes acorda manhosa e não tira o pijama cinza claro, Manhã é o tipo de mulher que pode ameaçar chover, mais isso é mais raro, talvez apenas em dias de TPM.
Dia é Manhã até se cansar e passar mais algumas horas se preparando para ser Tarde, então Tarde coloca um vestido pesado, alaranjado quente e exala todo seu calor e sensualidade. Tarde é do tipo de mulher dramática, que ama um tango, e como toda mulher, Tarde faz drama e ameaça ir embora, e lá se vai a distinta Tarde.
Depois de ser Manhã, Tarde, só pra surpreender todos Dia acaba por se tornar Noite,ainda mais bela, dessa vez verdadeiramente feminina, em um longo vestido azul celeste, com brincos de brilhantes, onde cada pedra tem seu nome, Dalva, Lucida, Beta, Maia e quantas mais estrelas Noite quiser, para se enfeitar. Noite não é mais bela, nem mais importante que Manhã e Tarde, até fazem um trio de magnitudes, de diversas faces e temperamentos, porém Noite é o tipo de mulher que carrega segredos, que é iluminada pela lua, Noite inspira poetas romancistas, definiria Noite como misteriosa. Noite trás um encanto que à 00:00 lhe transforma em uma outra mulher.
Madrugada se veste de branco, perde seu amor e se recusa a dormir, Madrugada vaga horas procurando seu amor, enquanto todos dormem. Acaba sempre por encontrá-lo já no final de suas forças, e como o amor nos leva a outro mundo, Madrugada é levada pra onde só quem ama de verdade sabe. Quando Madrugada se vai o brilho do sol acorda Dia, que está atrasado pra ser mulher de novo.

Contos Atuais


Nossas Rapunzéis cortam as tranças,
Simplesmente pra mudar o visual.
Nossas Julietas morrem todos os dias,
Por um Romeu que jamais as pertencerá.
As cinderelas perdem seus sapatinhos,
De tão bêbadas.
Brancas de Neve preferem morder a maçã,
A ir embora a cavalo.
Nossas Bellas permanecem adormecidas,
E nessa história elas não acordam nunca,
Pois os beijos, já não são de amor verdadeiro.
Princepes encantados,
Hoje em dia, não tão encantados assim,
Amarrem seus cavalos brancos,
Comprem um porsche preto.
Elas não querem rosas e serenatas, nem mesmo poemas,
Querem jóias, vestidos e tudo mais que seu dinheiro possa lhes comprar,
Então é bom que você não seja um sapo, ou um Corcunda de Notre Dame.
Elas não são mais pequenas e tão indefesas quanto antes,
Elas fazem o trabalho dos vilões para serem vistas como mocinhas,
E os finais felizes, eles já não são tão felizes assim.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pra que eu te tenha de novo!


E já faz certo tempo que não o vejo, não que seja algo doloroso e insuportável.
Apenas é como ter os sentidos abafados, talvez eu só ouça a música e esqueça de notar o quanto os acordes fazem diferença, não ouço mais nosso acorde secreto e já faz algum tempo. Sinto perfume mais é igual a todos os outros, a verdade é que apenas um passou a ser sentido. Os outros sorrisos estão amarelados e sem vida. Não tenho tido mais aquela vontade de ser pega pela cintura e apertada até que ficasse do seu tamanho, pra olhar teus olhos que depois de todo esse tempo não achei outros que me olhassem igual. As escadas por onde eu subo e desço não tem um anjo em carne com rosto forte olhando pro infinito. O escuro da noite não é só o escuro da noite, nele agora ouço ecoar nosso riso. Como se meus pés estivessem presos a terra e como eu queria correr atrás das borboletas, como a criança que fui. O relógio anda correndo demais e é como se eu pudesse sentir a areia das ampulhetas escorrer rápido entre meus dedos, os sinos tocam sem parar ao invés de tocar a cada hora, como pode estar certo? Estou indo embora mais me vejo ficando. E enquanto a maioria dorme eu sinto vontade de sair e te acordar, te pedir um beijo e então voltar pra cama sorrindo, mais ainda não é possível andar sozinha, as noites estão mais escuras que antes. Cada fino detalhe de flor me lembra que dali a pouco ela não será mais bela, estará murcha e sem cor, como eu queria que me guardasse em um livro, afinal só assim as flores não morrem não é? Mais a que preço? Já me perdi nas contas de quantos romances li, de quantos casais felizes eu vi, não faz diferença se você mora em meio a isso ou não, não vão te sintonizar, você não vai dançar na sincronia deles, talvez você tenha de montar sua própria coreografia, eu não quero mais dançar sozinha. O mundo não se molda a nós, talvez se criássemos nosso mundo. Se lembra quando segurava minha mão? Fecho os olhos e ainda a sinto e por mais que o tempo corra eu sei que não vai me soltar, eu não vou soltar nossas lembranças, sacudi-las ao vento pois o vento leva. Talvez eu tenha de esperar até que uma borboleta pouse em mim, bem no meu nariz, pra que eu desperte da sua ausência, pra que eu enxergue de novo suas cores, pra que eu ouça o acorde secreto e saiba que é o nosso, pra que meu anjo volte, e pra que eu sinta seu perfume, pra que seu sorriso me ilumine com uma luz branca que quase cega, pra que eu fique na ponta dos pés pra alcançar seus olhos, que seus olhos me olhem com a mesma doçura de antes, pra que possamos tapar o eco com novos sorrisos, pra que o relógio seja entregue a Deus junto com os sinos e que a areia das ampulhetas sejam devolvidas a praia, pra que eu fique e veja todo o meu coração com você. Pra que você me coloque pra dormir e cante pra mim, e eu não tenha mais vontade de correr atrás de você em meio ao escuro. Pra que eu seja guardada no seu livro, pra que nunca morra. Pra que ao invés de ler, eu escreva nosso próprio romance. Pra que não segure apenas minha mão, mais que me segure toda. Pra que eu te tenha de novo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um velho ao sol


Assim, como mais um dia único entres os outros únicos dias, ao caminhar para casa resolvi mudar o caminho, que em distância não mudaria em nada, apenas me acrescentaria novas vistas. Entrando em uma rua de casas antigas, mais ou menos a terceira casa, me deparei com um velho, vestia roupas de sua época, sapatos lustrados com certo zelo e graxa preta, camisa branca bem engomada, parecia estar em um cabide, ao invés de vestir o velho que por sua vez era alto e magro, usava o pouco cabelo branco penteado para trás, vestia um suéter para aquecer-se que certamente teria sido feito a mão. As mãos estavam guardadas no bolso da calça de tecido preto, com tamanho cuidado que não parecia estar guardando apenas as mãos.
A casa não podia ser de outra pessoa, pela janela num rabo de olho pude ver os móveis antigos, que resistiram ao tempo trazendo um pouco do passado ao presente, fotos apagadas de poeira, com rostos e roupas estranhas a nossa época, estavam pendurados na parede verde água com manchas amareladas de tempo, em molduras que pareciam vir de gerações, flores artificiais, vermelho sangue enfeitavam a estante empoeirada. E foi só o que a pequena janela me permitiu ver.
A frente da casa era também velha e antiga como tudo ali, a grade já enferrujada e um jardim de sobrevivência própria, já quase morto, o que me fez pensar que o velho já não tivesse mais sua senhora. Não sei se na garagem ou um alpendre com uma única cadeira de madeira pintada de branco, já bem descascada. Ali o velho se encontrava de pé imóvel, e em cada lado seu como se numa guarda permaneciam dois Scottish Terrier pretos como os sapatos do dono e já velhos e com aparência nobre, bem zelados e com certeza uma ótima companhia, estes não demonstravam nenhuma ou qualquer expressão que pudesse ser lida, bem dizem que os animais sem a seus donos.
O sol das 9 horas aquecia o velho e seus cães naquela manhã de 12ºC e deixava todo o alpendre de cor alaranjada. Talvez as poucas pessoas que por ali passavam atrasadas, só veriam mesmo um velho ao sol, mais pra mim os olhos dele mostraram algo mais, apressei e calei os passos pra não estragar a cena, mais adiante onde não pudesse ser vista parei e fiquei tão imóvel quanto o velho que parecia apenas olhar o nascer do sol. Pensei que o velho na certa não estivesse mais ali, talvez estivesse no passado, perdido nas lembranças e tudo que eu menos queria era trazê-lo de volta então respirei baixinho e continuei fixada nos olhos.
O olhar era saudoso, molhado e quente, não trazia tristezas nem alegrias então deduzi saudades. Como se todo o seu mundo, tempo e costumes, tivessem se perdido no passado e para encontrá-los ele tivesse se perdido na memória. Como se uma avalanche de modernidade tivesse atingido seu mundo e ele só conseguisse se salvar naquela casinha com suas coisinhas.
Talvez ele só estivesse se perguntando sem pressa o que seria, o que se seguiria adiante. Estava ali como quem ficou por último, viu cada um partir e deixar com ele suas histórias, pra que fosse passadas adiante. Como quem ficou por último pra contar a história, tão por último que já não havia mais quem as ouvisse.
Por fim notei que nada ali estava de veras no presente a não ser eu ali parada vendo aquele pouquinho de passado esquecido no presente, onde um velho mergulhado na memória com sua casa que parecia ter sido trazida por uma máquina do tempo, e seus dois cães dóceis de guarda, estavam ali salvos do presente futuro, o qual não pertencia a eles.
Depois de me encontrar ali como uma espiã resolvi deixar aquele cantinho do passado, no passado, mais dessa vez no meu passado, e seguir por fim o meu caminho. E volta e meia faço como fazia o velho, mergulho no meu passado e fico analisando a imagem daquele olhar em minha mente, que mesmo se ficasse ali por horas não saberia ao certo o que pensa o velho e teria a cada segundo uma nova sugestão de pensamento a acrescentar.

domingo, 27 de junho de 2010

Como essas noites frias tem me esfriado a cabeça, o céu nunca esteve tão perto a noite, as constelações mais a mostra, e é mais ou menos como se pairasse uma calma a mais, talvez as noites sejam as mesmas de muitos tempos, talvez eu tenha começado a enxergar mais, só sei que de repente é como se as cores ficassem mais fortes e as coisas que antes passavam despercebido agora me causam grande alvoroço. Tenho notado um mundo mais vivo, onde cada folhinha caída de árvore quisesse mostrar algo, sinto uma conspiração do universo, sinto cada ligação de elementos, sinto que os elementos são a forma palpável de nosso humor.
O mundo foi feito e fomos moldados a ele, como se a alma fosse uma foto do mundo, onde se pode ser selvagem, delicado, ter o calor. Morremos como tudo morre, mais existe uma alma que fica e pode ser sentida pelos ainda vivos, é como se a morte fosse o tempo dado de um jogo onde tentamos fazer o máximo antes dela, pra sermos lembrados, pra que possamos fazer alguma diferença.
Tenho visto cada pessoa mais profundamente, tenho lido o que os sorrisos trazem por trás, tenho entendido mais as pessoas pelo que elas carregam em sua bagagem, uma mochila pesada pode lhe causar um grande dor nas costas. Tenho visto como é interessante cada trajetória de vida escolhida, observando as mais exóticas, dês de descobrir um grande segredo a conquistar um espaço. As vezes é assustador, é como se eu pudesse ver monstros em plena luz do dia, vampiros dispostos a sugar sua vida. Como se fizesse parte de um filme onde o bem luta contra o mau. Ao mesmo tempo que os olhos vêem o que não quer, pode-se notar um bando de aves migrando por melhora atravessando o mundo, fênix renascendo das cinzas, borboletas que mergulham no mar e peixes voando, superação. A tempos venho vendo um homem vivendo entre uma manada de búfalos.
Queria poder emprestar meus olhos para que todos pudessem ver como eu vejo, então talvez fossem tão dramáticos quanto eu, talvez sentissem tão mais. Talvez pudessem assim ver a glória de pequenos que nesse mundo passam despercebidos.

domingo, 13 de junho de 2010

O Vento


Vivemos dele, e se existe no mundo uma ausência mais danosa desconhecemos.
Está em tudo, move o mundo como se este fosse um gigante cata-vento. O vento, este que mal sai e já o trazemos de volta ao corpo como se sugássemos vida, essência. Talvez seja esta a função do vento, ser essência, ser alma do mundo, ser Deus. Talvez seja pro vento simples sair atravessando o mundo como numa valsa, levando de cada ser o aprendizado de uma vida inteira com sigo, e talvez então seja este o mistério do vento, ser a mistura das essências das almas do mundo, mistura tão intensa que vivemos dela.
Então assim pensando, o vento leve leva consigo a doçura e os sonhos de criança, os pedidos pro Papai Noel, orações, desejos, sensações, amores.
O vento forte leva os arrependimentos, culpa, o medo de bicho Papão, a vingança, ódio, enfim o mau e tudo que lhe caiba; talvez por isso ele não cause bem como a brisa que lhe bate ao rosto.
O vento passa e leva você, o vento passa e leva o perfume de rosa ao beija-flor que foi levado pelo vento a vida todinha, e cada ser novo que nasce o vento leva.
E o vento leva o mundo, e você respira o vento e sequer se lembra, então pare, não respire e sinta o vento que te toca o rosto, e quando não mais puder segurar respire e leve o vento leve com você também, sinta que carrega a essência do mundo no peito, e depois solte-o afinal a essência é do mundo e sua essência o vento já levou com ele, quem sabe pra china, pra uma montanha ou um deserto, não importa o rumo.
Sinta no vento cada caminho bailado, cada história, cada glória, cada beleza, ouça em seu assovio um chamado, um conto de amor que o vento veio de longe trazer pra você, e de você levar também.
Talvez se encontre na vida um amor guiados pelo que o vento nos trás, como a moça que passou na rua, deixando o perfume pra trás, esse o vento passou e carregou pro rapaz.
Se você tem algo guardado que queira mandar a alguém, mesmo que nem saiba a quem, não a problema pois o vento sabe, então respire fundo e assopre que o vento leva pra você e quando menos se espera a pessoa recebe o recado como um ventar nos cabelos ela mal sabe mais o seu recado a fará sorrir. Pronto, recado está dado!

sábado, 12 de junho de 2010

Quero


Quero sentir um amor tão grande que só a alma possa suportar, o corpo será fraco pra tanto desejo, como esmagar com as mãos uma fruta macia em carne.
Quero acima de tudo, entender que o gosto da fruta, não éstá na fruta em si só, o gosto da fruta está no toque dela ao paladar. Fruta só não tem gosto nenhum, só beleza.
Quero uma alma intensa, tão intensa que me escape pelos olhos em forma de mistério, quero o mistério do mundo não desvendado só pra me instigar cada pensamento.
Não quero banhos de sol, quero banhos de lua, mais noite, menos dia, pois é a noite que os sorrisos do dia ecoam.
Quero viver, viver antes de morrer, não quero um dia-a-dia, quero uma vida-a-vida.
Quero estar na vida apenas sendo, sendo na vida apesar de... Apesar dos pesares.
Quero guardar algo de mim, pra dar a alguém , mesmo que eu não saiba ainda quem, mesmo que não seja pra alguém, então que seja pra mim, algo de mim pra mim, mesmo que seja só pra que eu não sinta que não tenho nada na vida.
Quero ser humana, e temer ir longe demais pela tamanha vontade de caminhar. Mais acima do medo quero continuar caminhando, pois na vida, nessa vida não se espera noite, se morre em pleno dia.
Por fim quero morrer como os elefantes de Clarice Lispector. Pesados de uma carne quente de amor, casca seca, malhada pela vida, andando devagar pela certeza de um mundo tão incerto, olhos molhados e doces pela saudade que se guarda, pelos sentimentos que são única coisa que se leva pelas vidas.

sábado, 15 de maio de 2010

As faces de mulher

Não relacione nunca a doçura de uma mulher ao seu mau humor e nervosismo, ali moram seres totalmente diferentes e reze sempre pra que de manhã acorde um ser domável.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Submersa


Me diga por quanto tempo eu estive fora.
Por quanto tempo permaneci desacordada?
Foi um grande choque eu diria, um grande choque do irreal.
Me manteve submersa pra que eu não ouvisse as vozes,
E realmente eu nada ouvia.
Como um inseto na luz branca
Eu não tive culpa em permanecer no prazer que seus olhos me traziam
Ninguém sentiu o que eu senti
Não podem descrever minha insanidade, não sabem eles o que a motivou.
Depois de quase me afogar na confiança que tinha,
Depois disso, lembro-me das vozes, abafadas pela água
Ela pulou, está se afogando, está morrendo...
Sim eu pulei, nunca disseram a mim o quando é perigoso confiar.
Enquanto me afogava eu decidia que morrer era melhor a acreditar
Acreditar que havia sido melhor ficar em terra.
Mais a vida me salvou, por motivos desconhecidos ela me quer viva
Viva mesmo carregando a dor
Talvez ela acredite em mim, confie
E eu não afogarei essa confiança.
Sabe quando se acorda e sente que o mundo espera algo de você?
Talvez Ele esteja me treinando, me deixando mais forte
Mais forte pra enfrentar um mergulho.
Mais forte pra conhecer o que supostamente move o mar.

Tão a frente do meu tempo


Conte-me meu amor.
Como seremos no futuro?
Teremos uma música, um cachorro?
Mande-me uma foto nossa.
Somos um casal feliz?
Você está tão a frente do meu tempo.
Então conte-me meu amor.
Mande-me fragmentos do futuro.
Só pra que eu tenha certeza meu amor,
De que serei boa o bastante pra você,
Só pra que eu não fique aqui me perguntando se teremos mesmo um futuro.
Te farei feliz meu amor?
Mostre-me nossas fotos dos próximos verões.
Me traga do presente um presente.
Você está tão a frente do meu tempo
Então me mande a primeira rosa seca dentro de um livro,
Essa mesma que guardo viva hoje.
Quebre as regras meu amor,
Mande-me uma certeza do nosso futuro incerto.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mas Ele mandou o tempo


Vamos nos moldar meu amor
O meu amor vai me moldar pra você
Até que eu fique do seu tamanho
Até que você caiba denovo a mim
Oh meu amor, não se preocupe, o tempo vai curar meu amor
Já sentimos o calor entrando pelas janelas
Eu sei, ainda resta um vento frio, que aqueceremos com nosso amor
Eu cuidarei de você denovo quando estiver boa
Mais disso o tempo vai cuidar, ele prometeu me curar e é isso que sempre dizem
O tempo cura tudo e é só o que se ouve
O que houve quando esperei que ele curasse meu amor? O que houve meu amor?
O tempo sabe o que se quer de verdade, realidade
Do amor o tempo não sente piedade
Ele só mostra a vontade de amar
Essa que meu amor, ainda não passou.

Reconquiste


Sabemos que o amor não permanece constante, sabemos disso, mas nossa vontade de viver o irreal faz com que nos frustremos a cada dia.
Sabemos que um dia não seremos mais olhados como se não viéssemos deste mundo, não receberemos mais mensagens de boa noite. Aquele ‘eu te amo’ sublime, romântico, acaba sendo dito com cada vez menos freqüência e entusiasmo. Você não recebe mais beijos apaixonados, é como se permanecêssemos constantemente atrasados para o amor.
Deixamos o sentimento mais importante simplesmente, ‘cair na rotina’, e o pior de tudo, alguns acabam aceitando que o amor adormece e que dele só resta, consideração, respeito, e admiração.
Mais como pode? Nada substitui o amor, nada nunca vai substituir, é dele que se ouve falar em toda e qualquer história, é por ele que as montanhas se movem, foi por ele o maior sacrifício, pessoas ainda morre pelo amor que você deixa adormecer, pessoas morrem todos os dias, por amor ou pela falta dele. Se o amor acaba a razão do mundo também.
Por isso o que procuro é a foca de quem luta pra que o amor não morra, procuro aquele que me surpreenderá a cada dia com uma única flor, ou com o décimo beijo do dia com gosto de primeiro. Aquele que inventará constelações quando o céu decidir não mostrar suas estrelas.
E andaremos o mundo, pra que cada nova vista seja também uma nova inspiração de amor. Quero antes de tudo que me tenha nos braços como se fosse me perder pra sempre.
E quando encontrar este capaz de se reinventar a cada dia para que nosso amor não morra; bem, quando encontrá-lo, lhe entregarei algo que venho guardando mesmo antes de saber quem era, lhe mostrarei um mapa que fiz, como de piratas este também guardará um tesouro. Direi-lhe todos os dias o quanto você demorou, o quanto te esperei. Procurarei sorrir em meio ao mau humor.
Quando já tivermos feito tudo, reinventaremos lugares, sonhos, formas novas de amor, nossa forma de amor. Mudarei a cada dia o perfume, para que jamais se acostume ao meu cheiro, serei a cada noite uma mulher diferente, e a cada manhã a mesma pela qual entregou a responsabilidade de te fazer feliz. Farei o que estiver ao alcance pra que seu amor não morra.
Só não me deixe cair na rotina, reconquiste-me a cada dia e eu também o farei, do contrário eu pularei este contexto, sempre em busca daquele que pra muitas seria um príncepe, mais que pra mim é um simples e indispensável reinventor, o reinventor do meu amor.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

E se você se desautorizar?


Estamos induzidos a percorrer sempre uma reta.
Seria essa a menor distância entre dois pontos, uma ponte, diz a ciência matemática.
E se de repente você resolve se desautorizar?
Está tedioso demais e o rio lá embaixo te convida, o vento te sopra pra lá.
E se você se permite, ó você se torna um insano, sem ponto fixo.
Se seu ponto, não for fixo?
E se você decide seguir o vento?
Ah o vento, sem pontos ou explicações matemática.
E se você se desautorizar?
O amor pode explicar.
Ele que explica tudo, que nos faz pular dessas pontes sem medo.
E se você se desautorizar?
E se você decidir viver?

terça-feira, 6 de abril de 2010

É entre nós dois,

Que tudo foge, sai do contexto.
Vira pescada nas estrelas,
O céu é o mar e o inverso,
E eu sinto as cores e tons do universo.
Meu portal pro desconhecido,
Meu riso de desenho animado,
Minhas manhas e manhãs,
Razão do rosado de minhas maçãs.
Você entra, minha razão sai,
Até onde isso vai?
Vai além da vista que se tem da janela,
Navegamos num barco a velas procurando terras por onde andar,
Camas por onde amar.
A verdade é que permanecemos no mesmo lugar,
O vício do meu amor é que me faz acreditar,
Que andamos meio mundo nesse pequeno espaço de te beijar.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Perfeccionismo matou o Amor

Ele deixou sua garota, pra procurar uma mulher ‘foda’,
A garota deixou seu mundo rosa, pra correr atrás de um suposto valor,
O perfeccionismo matou o amor.
A tv grita o que diz os tripulantes desse barco mundo,
Tripulantes imundos.
O certo de uns é tomado pela insegurança de outros,
Tantos são os inseguros a ditarem o ‘certo’.
O mundo tem sido um choque, do teu certo e o do vizinho.
O amor imperfeito será excluído deste mundo ‘foda’.
Não há espaço pros teus erros tripulante, ou o marujo do lado te engole.
Suas diferenças não serão aceitas nessa massa homogênea dos bons.
Então pula nesse mar careta tripulante, deixa a onda te levar. Nesse barco onde matamos nosso amor pra sermos capitão, não há virtude em navegar.

quarta-feira, 31 de março de 2010

É meu feitio não ser fetiche de ninguém
É parte constante dessa minha inconstância
Parte integrante a incoerência dos meus atos
Fatos já não são discutidos ou justificados
Fatos justificam atos, porém são cegos olhos a sentimentos, fato.
Trajetos já não são traçados
Mais de certo só construirei castelos de areia, belíssimos até o primeiro vento.

quarta-feira, 24 de março de 2010

‘Sacada alaranjada,
Quarto perfumado,
Cama quente
Manhã gelada
Camisa roubada
Sapatos na porta de entrada
Cheiro de café
Cozinha sonora
Camisa encontrada
Sorriso de bom dia
Beijos de Amélia’.

terça-feira, 23 de março de 2010

Trás lembranças de lugares distantes...
Não as revela a ninguém...
Não es de falar muito...
Dança com as folhas que encontra na estrada...
Como o vento. As vezes assovia, mais nunca se sabe qual canção canta.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Estamos todos migrando...
Pra lugares diferentes, embora estejamos todos indo em direção a um futuro.
Recordo-me claramente do dia em que me disseram, que ‘não há escolha quanto a escolher’, receberemos de alguma forma um pacote que lhe é enviado de acordo com a opção selecionada. Complicado não é? Pagamos por nossas escolhas, e se não escolhermos; bem, isso também será uma escolha.
Por isso estamos todos migrando...
E por mais que escolhemos, conquistemos, sempre nos vamos com aquela vontade de voar mais, a quem diga que uma vida inteira pode não ser o suficiente. E se pararmos para pensar, sentados debaixo de uma árvore observando ‘a lei da gravidade’ pouco importa de onde viemos, o que realmente importa é pra onde e até onde estamos dispostos a ir.
Por isso estamos sempre migrando...
Migramos por um amor, por um por um por do sol mais alaranjado, para uma outra vida. São as mais variadas formas com apenas um intuito, buscamos apenas o pedaço que achamos cabível no mundo, mesmo nem sabendo ao certo de onde ele veio e até quando nos será cedido.
O importante é estarmos sempre migrando!

domingo, 21 de março de 2010

“Não sei ao certo quando, e nem de onde veio. Mais a algum tempo percebi, que sempre que necessário estava ali. Não é parte do meu mundo, é parte de minha fuga. Não é tocável, mais isso não impede de sentir.
Não, ele não adivinha o que eu quero, não sabe do meu humor, e nem temos tanto em comum, o diferencial é o equilíbrio entre as diferenças.
Talvez sejamos apenas um ‘Ponto de paz’ e isso nos faz querer estar juntos.
Sem aquele ‘Eu te amo’, esta frase torna as coisas sensíveis demais não é?
Sem qualquer euforia ou demonstrações explicitas de sentimento. Apenas se sente, sentimos na correria do dia-a-dia uma saudade, uma vontade de estar em um ‘esconderijo’, é, destes esconderijos que se tem quando criança, destes onde se guarda coisas importantes, como uma coleção de incetos ou bonecas.
Talvez sejamos esconderijos um para o outro.
Talvez seja essa a nossa importância”.

sábado, 20 de março de 2010

Chá pra amor


Desperdiçou beijos meus como quem arranca pétalas, brincando de bem me quer.
Não era amor, pelo menos não o meu amor, ele não faria isso.
E por aqui, por ali, dês de então; todos passam a perguntar: Onde andas o seu amor?
Não sei por onde andas, ele não veio me procurar. As vezes passa e diz um “oi”
Mais que apressado é este amor, nem sequer para pra tomar um café?
Vou ajeitando minha cozinha, talvez o amor não goste de café, então posso eu preparar-lhe um chá.Então quando lá vier o amor apressado, bem, talvez ele sinta o cheirinho e resolva ficar.
Tudo foge a realidade
Observar-te, é como entrar em outra dimensão
Já não suporto mais tentar desvendar sua mente
Os olhos queimam ao observar teus gestos mais simples
É torturante, ver o que traz nos olhos

Parece carregar o mistério do mundo nas costas
Um infiltrado dos anjos na terra
Já cansei-me de imaginar-te como criança, parece já ter nascido adulto
Já não teria vivido mil anos?

Cada simples palavra cotidiana, pesa em sua fala
Essa fisionomia jovem, de fato não combina com você
Por dentro parece já ter vividos as guerras, conhecido os poetas que o mundo já perdeu
Parece carregar cada detalhe, de cada amor que já viveu
Parece carregar o mistério do mundo nas costas, porém, sem medos
Um infiltrado dos anjos na terra
Já cansei-me de imaginar-te como criança, parece já ter nascido adulto
Já não teria vivido mil anos?

Uma mente, como um filme antigo
Não duvidaria se me disseste já ter dançado bailes da realeza
Acreditaria fielmente que já foi um cavaleiro da nobreza
Que já viveste um amor descrito por Shakespeare
Que o brilho do seu olhar teria sido entregue a uma bela no passado

Parece carregar o mistério do mundo nas costas, porém sem medo
Um infiltrado dos sábios na terra
Já não teria vivido mil anos?